terça-feira, 2 de setembro de 2008

PORTOS DE MAR DO CONCELHO DA POVOAÇÃO


Uma das razões da morte prematura do concelho de Povoação, além do abandono dos seus povoados, foi a falta de portos de mar, sempre evidente.
Historicamente encravada, como a Ribeira Quente e Faial da terra, a Vila da Povoação, a rasar o mar, nunca teve quaisquer estruturas portuárias.
A motorização dos seus barcos de pesca e a anteriro motorização do seu último barco de cabotagem, foram a razão do seu desaparecimento.
A Ribeira Quente, porque quase só vivia da pesca, ao motorizar os seus barcos de boca aberta, ficou perante o dilema de vir a ter graves problemas futuros, porque varar ou arriar um barco motorizado de já maior dimensão, não podia continuar como antes, ao sabor do incerto.
Os seus rogos nunca foram ouvidos por qualquer entidade governativa, embora algumas soubessem que a Ribeira Quente depois de identificada, como povoado, sempre havia sido, e era, uma zona da ilha que vivia quase exclusivamente da pesca.
Na Povoação, sede do seu concelho, todas as tentativas nesse sentido foram infrutíferas e desolantes para os pescadores da Ribeira Quente.
Mantinha-se ali, desde há muito, uma curta e pequena rampa de varagem de pedra rústica que, na maioria do tempo, ora se cobria com seixos de pedra roliça, ora com areia sazão.
Já dentro do período da Revolução de Abril, os pescadores desta localidade, também compreenderam que nos períodos de reboliço político, por vezes, se podem conseguir coisas que, em situações normais, nunca se conseguem.
Sob a orientação moral do seu pároco, o Padre Silvino, se constituíram uma Comissão Reivindicativa, a fim de aproveitar a então natural tendância revolucionária para concessões.
Esta comissão, sempre acompanhada de perto pelo seu prestigiado pastor, foi constituída em Setembro do ano de 1975.
Emcabeçada pelo então jovem professor das Lajes do Pico, Carlos Ávila, que ali leccionava o Ciclo Preparatório T. V. conhecido como telescola, foi este o escolhido devido ao seu fácil poder de comunicação e expressão, já que os pescadores, embora bastante maturos, logicamente, iam ter muitas dificuldades.
Cientes de que em Ponta Delgada se não conseguiria nada em matéria reivindicativa, depois de contactos tidos com o então Presidente da Junta Governativa dos Açores, general Altino de Magalhães, pensaram ir a Lisboa a fim de expôr a sua velha situação.
Esta Comissão Reivindicativa era composta por:
Carlos Ávila
João Vieira Melo Peixoto (João Balaia)
António Rita Amaral (Sacadura)
António do Rego Braga
José Francisco Gonçalo Lima (José Faia)
Carlos Manuel Couto
João Canhoto
José Baieta
e José Bezuguinho
Por razões óbvias, só foram a Lisboa: o professor Carlos Ávila, como cabeça da comissão, João Balaia, António Sacadura, António Braga e José Faia. Esta deslocação ocorreu em Julho de 1976.
Foram transportados em avião militar conseguido pelo general Magalhães, tendo sido este também, quem conseguiu que esta comissão fosse recebida em Lisboa pelo ao tempo Director Geral dos Portos, o Eng. Mulhõs de Oliveira.
A deslocação foi positiva visto que, nesta mesma altura, depois do projecto aprovado como previsto, a obra foi adjudicada à Firma Edimar de Setúbal pela importância de cerca de 12.000 contos, então valor muito significativo.
Esta obra foi iniciada neste mesmo ano, e concluída no ano seguinte, 1977.
Por determinação do Governo da Nação, depois do molhe concluído, este passou então a ser propriedade do Governo da República e da Direcção Geral dos Portos.
Embora não houvessem, naquela altura ou tempo, tantas facilidades telefónicas, como hoje, para a Ribeira Quente, houveram em quantidade suficiente para poder transmitir a alguns membros da Comissão Reivindicativa, saudações pouco amigáveis, muito próprias daquela época de ebulição.
A propalação da riqueza amena da Ribeira Quente continuava o seu curso, vindo esta a dar o grande impulso para o reajustamento de uma histórica fase enfática de um passado distante que havia morrido desde há muito, porque o mar, amigo e inimigo, assim havia desejado.
Lentamente, o fenómeno da compra de casas abandonadas foi crescendo: As modestíssimas habitações passaram a ser procuradas, inicialmente, por preços correspondentes ao seu real valor de casas em degradação, algumas destas apenas adquiridas pelo simples espaço que ocupavam, não pelo valor da sua construção, porque eram apenas um montão de pedras em paredes sem consistência alguma.
Mas a fenomenal e célebre mudança do aspecto sócio-paisagístico da freguesia da Ribeira Quente, não teria acontecido assim tão rapidamente, só pela existência da sua praia e das casas abandonadas. Houveram outras razões, como a de já alguns pescadores poderem dar um melhor aspecto às suas modestas habitações. Mas a razão mais forte foi a do aparecimento de uma população que se fez ambulante, por ter comprado as rudimentares e velhas habitações abandonadas por força da emigração.