terça-feira, 26 de agosto de 2008

ANO DE 1900



É de um extracto do Livro de Assentos, ou do Tombo, da actual Igreja de São Paulo, que vamos encontrar o nome de um dos seus curas e servidor da Igreja, antes desta data de 1900.


"Em vinte de Março deste ano, conforme o assento de óbito n. 6, faleceu nesta freguesia, o Padre António Jacinto de Melo, natural da Povoação, que paroquiou nesta freguesia a primeira vez de 1869 a 1876 e a segunda vez de 1888 até 1900, data da sua morte".


Como vamos adiante compreender, este acontecimento ocorreu quando este sacerdote e cura do segundo templo da Ribeira Quente, que nessa altura já tinha mais de oitenta anos de idade.


E foi assim metido, numa moldura de sentimento humano, que o povo da Ribeira Quente se moldou e ficou retratado como povo que merecia mais carinho e compreensão por parte de quem o governava, visto que era um povo isolado e com um impressionante espírito de sofrimento sem revolta, que aceitava como natural este seu isolamento de sempre.


Da sede do seu novo concelho pouco podia então esperar, visto que sendo uma vila rodeada de solos ricos, o seu povo era pobre e continuou a ser pobre, porque as terras eram pouco divididas. No entanto, sempre houve uma preocupação e uma esperança da parte dos governantes do concelho, de um dia poderem ver o povoado de pescadores da Ribeira Quente ter uma estrada capaz de o ligar não só à sede do concelho como ao reto da ilha.


Esta esperança quase veio a aflorar quando o Rei D. Carlos visitou esta ilha e este concelho no ano de 1901.


Como no programa da visita régia constava uma visita ao primeiro povoado desta ilha, à Vila da Povoação, mais precisamente ao suposto porto de desembarque dos primeiros povoadores da ilha, fizeram os edis do mesmo os projectos antecipados de pedidos que se iam fazer ao rei.


Um cais e porto na sede do concelho era o mais vincado, visto que as terras da bacia da Povoação estavam na sua mais alta produção de sempre e a exportação só era possível pelo caminho do mar.


O acesso à Ribeira Quente, o único povoado do concelho sem qualquer acesso sem serem os rudimentares já apontados, era a segunda necessidade primária.


Chegada sua majestade então ao lugar da "Chã da Lomba do Cavaleiro" ficou extasiada com tão grande beleza, mas já não quis descer a ziguezagueante estrada que o levaria ao lugar do "Porto Velho", lá no fundo do litoral da pequena vila. Por isso, logo ali se determinou a um dos abismados naturais da terra que fosse buscar um saco de areia à praia do referido porto, a fim de Sua Majestade a pisar.


No regresso a Ponta Delgada, ao chegar à zona da "Ribeira dos Tambores" - onde hoje se bifurca a estrada de acesso à Ribeira Quente com a chamada estrada regional de primeira - foi simbolicamente assentada pelo Rei D. Carlos a pedra de abertura da sonhada estrada de acesso àquele povoado.


Como sempre, houveram foguetes, lágrimas de alegria e agradecimentos, mas só passados cerca de 37 anos é que o povo desta localidade soube o que
era um verdadeiro caminho de circulação livre.

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